Pode parecer um pouco ousado afirmar isso, mas tudo indica que estamos vivendo, de fato, uma mudança de era e a tecnologia é o grande vetor que a torna tangível, expressa e vem promovendo mudanças significativas nas sociedades e organizações.
Peter Diamandis, fundador e presidente executivo da Fundação XPRIZE, que lidera o mundo na concepção e operando competições de incentivo em larga escala, executivo fundador da Singularity University no Vale do Silício, instituição acadêmica que aconselha os líderes mundiais a crescer exponencialmente com tecnologias e autor dos bestsellers "Abundance" e "The Future is Faster Than You Think", vem demonstrando em suas palestras a velocidade das transformações que estão acontecendo ao redor do mundo.
Diamandis provoca as pessoas a pensarem em Moonshots para criarem soluções capazes de transformar o mundo, ou seja, em vez do pensamento de promover melhorias de 10 a 20% em processos, propõe pensar em soluções capazes de gerar um impacto 10 vezes maior e, assim, o objetivo passa a ser de reinventar processos criando soluções disruptivas. É com esse modelo mental que, ao contrário do que muitos dizem, no futuro teremos escassez de muitas coisas vitais para o ser humano como água e alimento, ele defende que teremos abundância, porque a tecnologia irá proporcionar ganhos em escalas em muitos processos evitando desperdícios e aumentando a produção.
E se pararmos para refletir, estamos vivenciando um dos maiores acontecimentos mundiais dos últimos 100 anos. Refiro-me a pandemia da Covid-19, que arrebatou e continua arrebatando milhões de vidas, confinou toda a humanidade em suas casas e estabeleceu o distanciamento social entre as pessoas, ou seja, foi o maior apagão já vivido no planeta com relação ao comércio e relações pessoais, com impactos profundos nas estruturas tradicionais que provocaram a necessidade de adaptações rápidas da humanidade. E assim também foi nas organizações.
Nunca na história do mundo foi desenvolvida uma vacina em tempo tão curto. Com os avanços exponenciais da tecnologia, essa corrida foi vencida em tempo recorde. A OMS declarou Pandemia no dia 17/03/2020 e a primeira dose da vacina da Pfizer foi aplicada no Reino Unido em 08/12/2020, ou seja, menos de 9 meses após.
Já vínhamos sendo impactados pelas novas tecnologias, pelo surgimento de várias startups, pela disseminação intensa dos métodos ágeis e muito mais. Mas ficou evidente nesses 9 meses que foi preciso muita adaptação das organizações. E sem dúvida, a tecnologia foi o vetor que proporcionou, de repente, que a maioria das organizações e seus trabalhadores tivessem suas rotinas alteradas passando para o modelo home office. E esse grande teste em escala mundial tem sido transformador. Por um momento (9 meses), muitas organizações passaram a perceber uma grande oportunidade nesse modelo que, até então, era testado de forma muito módica por algumas organizações.
Ganhos foram percebidos como: maior qualidade de vida dos colaboradores, maior produtividade, maior eficiência - já que não há perda de tempo com deslocamentos -, a possibilidade de competir globalmente por talentos sem restrição geográfica e muitos outros. Mas a estrada ainda é longa porque os impactos nas culturas organizacionais, na criatividade e na presença física carecem de mais observações.
Reinventar os encontros é mandatório, pois, a humanidade, a meu ver, deu um “salto quântico” com relação as novas formas de trabalho e empresas como a XP, por exemplo, já disseram que não voltam ao modelo anterior.
Ao monitorar o mercado mundial sobre essa grande mudança, percebi que as organizações ficaram realmente sem saber o que fazer, por onde começar e estão utilizando da técnica de tentativa/erro para ajustar suas operações ao modelo que seja mais produtivo. Há uma infinidade de pesquisas saindo do forno e várias empresas testando modelos diversos como: o modelo híbrido, remoto plus, Hub & Spoke, full time...etc.
Com todas essas transformações que já vinham acontecendo, impulsionadas pelos vales dos silícios espalhados pelo mundo e agora aceleradas com a pandemia, uma coisa ficou bem clara: a necessidade de se adaptar rápido é fator de sobrevivência. E quando penso nisso, lembro que a estratégia precisa se adaptar.
Mintzberg abordava as estratégias emergentes como algo que impactava a estratégia deliberada. Sandro Magaldi e José Salibi Neto defendem a estratégia adaptativa como solução para as organizações.
Para Magaldi e Salibi (2020), toda vantagem competitiva é transitória e a organização é obrigada a lançar continuamente ações para alcançar a liderança e essa dinâmica de transitoriedade e efemeridade da vantagem competitiva é o fundamento da promoção da inovação como novo imperativo estratégico. Segundo os autores, a inovação e a estratégia têm sido encaradas como disciplinas separadas ao longo do tempo. Enquanto a visão clássica de estratégia como posicionamento é entendida como o movimento para encontrar uma posição favorável em uma área específica e explorar uma vantagem competitiva a longo prazo, a inovação era concebida como o ato de criar novos negócios, processos, produtos e serviços. Essa separação não faz mais sentido. Agora, a estratégia deve considerar a inovação contínua, criando uma cultura e processos que introjetem essa perspectiva nas entranhas da companhia. (MAGALDI; SALIBI, 2020).
Para a Startse, empresa de educação que fomenta o pensamento disruptivo e formação de empreendedores, a gestão baseada em planejamento, comando e controle (PCC) funcionou muito bem para empresas ao longo do século XX.
No entanto, o avanço exponencial do desenvolvimento tecnológico tornou os mercados muito mais imprevisíveis, os profissionais passaram a valorizar novas prioridades e os clientes passaram a ter muito mais opções por conta da concorrência dinâmica. Neste novo cenário, surge a necessidade de um modelo de gestão baseado na agilidade, na experimentação e no contexto. (STARTSE, 2020)
Neste modelo de gestão, substitui-se planejamento por projetos e experimentos. O comando dá lugar à liderança. O controle abre espaço para o alinhamento com propósito e significado. E no centro deste propósito, está o valor que se gera ao cliente. (STARTSE, 2020)
Substituir o comando e controle pelo alinhamento é uma prática que traduz bem a gestão por contexto. Não cabe à liderança verificar a rotina de cada colaborador. Ao contrário, a responsabilidade dela é definir qual é o objetivo da empresa como um todo, de uma área ou de um determinado colaborador. (STARTSE, 2020)
Com essa necessidade de adaptação rápida é que a estratégia volta à cena como parte crucial para a sobrevivência e crescimento das organizações. Tiago Mattos no seu livro “Vai lá e faz” afirma que por mais apaixonado que seja o empreendedor, chega uma hora que ele precisa estruturar melhor para, numa eventualidade, até deixar o dia a dia e ficar só na estratégia.
Vou além. Percebo que muitas startups que conseguem sucesso rápido no primeiro momento, no segundo já precisam recorrer a estratégia para estruturar melhor o negócio, definir os rumos e assim dar sustentabilidade ao crescimento.
No artigo do Nizan Guanaes (2020), ele afirma que a estratégia é o Waze. É ela quem dá o caminho mais viável para as metas da empresa. Para ele, a maioria das empresas não tem estratégia de comunicação, não tem estratégia de marketing e num sentido lato, não tem estratégia empresarial. (GUANAES, 2020)
Os fundadores de impérios são estrategistas, afirma Nizan. Ele diz no artigo que via estratégia clara no comandante Rolim fazendo a TAM decolar e que a Natura tem três fundadores e guardiões da proposta de valor, que vão sempre atualizando. Mas que são, sobretudo, estrategistas. Diz ainda que países de sucesso têm estratégia (GUANAES, 2020).
Importante ressaltar a importância das pessoas no processo de inovação e estratégia. Segundo Romeo Busarello, nas grandes corporações 10% é algoritmo, 20% é tecnologia e 70% pessoas.” E ainda aconselha: “Se quiser salvar o mês, feche um contrato. Se quiser salvar o ano, corte custos. Mas se quiser salvar a década, promova a inovação.”
E se cultura de inovação é a estratégia do mundo atual, então promova a estratégia.
Como desafio, fica a frase de Sandro Magaldi, adaptada de Peter Drucker: “A rotina devora o pensamento estratégico no café da manhã”.
NIZAN GUANAES -> https://www.linkedin.com/pulse/esperan%C3%A7a-n%C3%A3o-%C3%A9-uma-estrat%C3%A9gia-nizan-guanaes/
STARTSE ->https://www.startse.com/noticia/nova-economia/fim-planejamento-comando-controle-gestao-contexto
SANDRO MAGALDI - > https://promo.editoragente.com.br/estrategia-white-paper
ROMEO BUSARELLO -> https://www.youtube.com/watch?v=_tz537CSRGA
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